terça-feira, 17 de setembro de 2013

O porvir do passado - Néstor Canclini

Interior do Palácio da Liberdade - Belo Horizonte
Quando falamos sobre museus e locais de memória sempre atribuímos esse trabalho a um a restauradores, arqueólogos, historiadores e museólogos, ou seja, os profissionais responsáveis em proteger e difundir o patrimônio. Esquecemos que a construção de uma identidade nacional é dever de todo o cidadão.

Mas que tipo de patrimônio preservar?  O que comemorar? Qual nossa identidade nacional?

A própria noção de patrimônio é uma criação de ideologia oligárquica, um tradicionalismo hierárquico que nos é dado como um "dom", algo essencial para nossa formação e identidade nacional, uma celebração unilateral e inquestionável da "verdade"que é repetida pela escola com o objetivo de fixar e divulgar a todos.
Coroa Imperial em exibição no Museu Imperial

Para entender o patrimônio precisamos compreender as relações da sociedade com o passado e a ritualização cultural. Os museus e monumentos surgem nesse contexto como instrumentos de teatralização que auxilia na reprodução dessa origem mágica e heróica.

O tradicionalismo revela-se como uma resistência à modernidade, onde tudo que foi construído e que está enraizado corre o risco de desaparecer. Comemorar esse passado "legítimo" construído através de grandes feitos e grandes heróis torna-se uma zona de conforto onde todas essas celebrações se repetem sem precisar de questionamentos, como se fosse uma fuga da modernidade ou do verdadeiro sentido da comemoração.

Qual o papel do museu nesse contexto todo?
Museu da Maré - Rio de Janeiro
Os museus surgem como sedes cerimoniais onde o patrimônio é teatralizado e hierarquizado, lugar onde é guardado e celebrado, onde se reproduz o modo de pensar de determinados grupos que organizam seu acervo.
Ou seriam os museus lugares para se discutir essa ideologia hierárquica e resgatar a verdadei
ra história de nossa identidade nacional, isso é o que podemos perceber com as mudanças na concepção museal atual, onde os "outros passados" são resgatados e vem de encontro à tradição questionando-a e trazendo a luz novos personagens de nossa história.


REFERÊNCIA:
GARCÍA Canclini, Néstor. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4. ed. São Paulo: Edusp, 2003. p. 159-204: O porvir do passado.

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