Este ano o tema escolhido foi Museus, Memória e Cultura Afro-brasileira, como sabemos a cultura afro-brasileira permanece forte na tradição oral das comunidades, nos terreiros, quilombos, rodas de samba, toadas e batuques. Na realidade dos museus encontramos apenas fragmentos dessa cultura muitas vezes associado ao período da escravidão.
Os museus por sua natureza são locais cheios de memória onde transbordam relatos, discursos, lutas e conquistas, a isso devemos agregar toda vasta e rica cultura afro-brasileira a fim de se conhecer melhor os festejos e comemorações como também sua história com o mais puro objetivo de impulsionar o pensamento crítico, a diversidade, a pluralidade do que é ser brasileiro, essa multicultura de que somos formados.
A temática deste evento nos faz pensar acerca de nossa própria identidade e nos permite ampliar horizontes da interpretação buscando a eliminação dos preconceitos raciais e sobretudo a valorização e preservação da memória material ou imaterial para contribuir ainda mais na musealização da cultura afro como uma cultura de todos nós.
Ao participar da mesa redonda no Museu Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, sobre o tema: "A Cultura Afro-brasileira nas Instituições de Memória", tivemos o privilégio de conhecer mais acerca do trabalho do Prof. Dr. Iosvaldyr Carvalho, que falou sobre a criação de imagens e percepções sobre os negros. Também lembrou dos quadros de Debret, de visão etnocêntrica e depreciativa dos negros. A memória por evocação para reforçar a história das comunidades quilombolas.O que chamou minha atenção foi a reflexão sobre os acervos de nossos museus, que segundo ele, contém objetos e artefatos de extrema importância para a cultura afro-brasileira e estão guardados nas reservas técnicas.
Foto de: Wagner Innocêncio Cardoso |
Integrando a mesa redonda o Prof. Me. Pedro Rubens Vargas falou sobre o Museu do Percurso Negro de Porto Alegre, projeto constituído através da colaboração de diversas entidades do movimento negro, reunidas pelo Centro de Referência Afro-brasileiro¹, através de intervenções artísticas marca os lugares vivenciados pelos negros de Porto Alegre. Uma das coisas importantes que destacou foram os museus na esfera pública e como perceber a complexidade da cultura afro-brasileira e a questão da identidade do negro no museu, já que nos deparamos com várias identidades culturais que formam nosso país e ao mesmo tempo uma assimetria de poder especialmente relacionada a cultura afro-brasileira que está em desvantagem. Isso nos levou a reflexão sobre a construção de um novo espaço público transmissor social da memória, ou seja, o museu assume a responsabilidade de usar objetos e artefatos como mediadores sociais.
Fotografia de autor desconhecido Acervo do Museu Afro-brasileiro |
Acredito que a valorização, o respeito e reconhecimento da cultura afro-brasileira, mesmo que tardio, vem auxiliar na formação de nossa identidade, pois como afirmado por todos os estudiosos da área, somos um país multicultural, miscigenado, o que nos falta é conhecimento acerca do outro.
¹ http://museudepercursodonegroemportoalegre.blogspot.com.br/p/realizacoes.html
² ANJOS, José Carlos Gosmes dos. A identidade étnico-racial não tem fundamentos biológicos nem culturais. Revista Adverso. n.154.Porto Alegre. Fev. 2008